24 Jun 2009 @ 1:38 PM 

Imagine:

Se num estado de primitiva ignorância você não sabe o que fazer para conseguir alimento. Para satisfazer a mais básica das necessidades para se manter vivo, não consegue ver como dominar a natureza de forma a se alimentar. A única coisa que sabe é que por vezes tem abundância, mas por outra profunda penúria que mata, principalmente, os mais fracos, ou seja, os teus pais e os teus filhos.

Se eu aparecesse e te dissesse assim: -”Tenha calma. Não se desespere. Eu sei o que você tem que fazer. Uma ave mágica (*) veio dos céus e me disse. Não acredita? Faça, tente fazer, o que te digo. Se funcionar e você e os seus deixarem de sofrer, acredite então no que te digo. Quer tentar? Então faça assim: trabalhe quando e onde eu te disser para trabalhar. Numa parte de teu tempo trabalharás na construção de monumentos em honra daqueles que te garantirão a vida, no resto dele, mas no momento em que eu te disser, trabalharás na terra pois logo a seguir a ave mágica se encarregará de irriga-la com suas lágrimas. Ela chora por nosso sofrimento. Isto garantirá todo o alimento para você, para todos os seus e para sempre. Mas desde que me entregue todo o produto do teu trabalho, para que eu o guarde e o faça multiplicar, com a ajuda da ave mágica. Só eu posso fazer isto, pois sou o agente transmissor da voz e da vontade deste magnífico ser. Mais tarde, se ver que eu estou certo, acredite então em mim, caso contrário chame-me de louco.”

Você aceitaria o desafio? Se aceitasse, por que outros o fizeram e te garantiram que funciona mesmo, e afinal também funcionasse contigo e você não compreendesse porque, chamar-me-ia de Deus? Talvez. Mas no Antigo Egito funcionou e isto proporcionou que milhares de pessoas durante muitos anos acreditassem que um ser humano, o faraó, era um Deus na Terra e os monumentos construídos por esta lógica foram dos mais belos e maiores de sempre.

Por que? A história era muito credível ou mesmo muito bela? Não. Funcionou porque a tal ignorância primitiva era muito grande.

Sempre digo aos meus filhos que neste mundo há duas espécies de pessoas, as que mandam e as que obedecem. “Estudem”, digo eu, “pois terão uma hipótese de ser um daqueles que mandam”.

(*) Se qualquer espécie de ave mágica é colocada neste enredo, ou em qualquer outro contexto, é só para que o ouvinte não acredite que se eu consegui descobrir aquilo com minha própria cabeça, talvez ele também o conseguisse. O ser divino sobre o qual eu (o personagem) sou o único a ter acesso, tem somente este propósito.

Filho, se eu o coloquei a estudar num colégio religioso cristão, não foi para que se convertesse naquilo que o neguei converter automaticamente ao impedir o teu batismo, mas para que soubesse exatamente aquilo no que não acredito.

Posted By: Edgard Costa
Last Edit: 25 Jun 2009 @ 02:09 PM

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