06 Set 2010 @ 6:54 PM 

Dito assim, parece contraditório, um paradoxo. A primeira vista, para nós humanos, fica fácil de classificar, de sentir atração e repugna. Não é difícil imaginar, pela lembrança dos cheiros, que uma queremos por perto e a outra bem distante.

Somos mesmo assim. A flor de tão atrativa e deliciosa a nossos sentidos, domesticamos, aprisionamos, escravizamos e assistimos a sua morte com deleite, com prazer. Oferecemos o seu sacrifício às pessoas amadas, confina-mo-las a um canto de nossas casas como enfeite. Se morre, compramos outra e aquela morta vai para o lixo.

E aqui começa a nossa história. No lixo ela se resume em matéria orgânica. Certamente será consumida, uma vez que é também ela um fornecedor de energia necessária a sobrevivência de outras espécies. E transformar-se-a, fatalmente, em bosta de um animal qualquer.

Já a bosta, a nossa mesmo, produzida com as sobras de nosso alimento dos quais retiramos a tal energia, a queremos longe. Inventamos um mecanismo simplesmente genial para afastar o seu cheiro mesmo no ato da produção, ou poucos minutos depois desta, onde a milagrosa água esconde os odores dos gazes, também eles matéria, transformado em lixo por nossos corpos, ou pelas bactérias de nossos corpos, melhor dizendo.

E a bosta, na Natureza, carrega de volta à terra os nutrientes necessários à procriação, à vida. E, o paradoxo, gera inclusive flores que trazemos para casa, oferecemos aos amados, dedicamos seu sacrifício aos nossos saudosos mortos, etc…

No fundo, no fundo, é tudo a mesma merda, como se diz. Depende do contexto. Tente você, simples humano, convencer um escaravelho que as flores são melhores para se ter em casa, ou oferecer a amada, do que a bosta, principalmente se ela for de elefante! Duvido que o convença, por mais eloquente que você seja.

Peça a um escaravelho para usar toda a sua capacidade criativa para argumentar com uma borboleta, tentando convence-la de que o cheiro da bosta é melhor que o da flor. Certamente que ambas as argumentações sairão arruinadas.

Somos nós quem classificamos as coisas e as vemos como queremos e podemos ver. As coisas, como as palavras, são o que são e só valem em função do entendimento e uso que se faz daquilo.

Haverá uma verdade sim mas ela é fatual, nada mais faz que descrever eventos históricos. Mas quanto a uma verdade na classificação das coisas… bem… acho que simplesmente não existe. A classificação é mais um artifício de nossa civilização.

(Nota em 25/10/2010): Li “As palavras e as coisas” do Michel Foulcault já há muitos anos, na faculdade ainda. Estou a ler este fantástico livro outra vez e não me lembrava como o essencial pensamento do mestre havia me influenciado tanto.

Posted By: Edgard Costa
Last Edit: 25 Out 2010 @ 08:44 PM

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 31 Mai 2010 @ 6:38 AM 

Uma ideia a reter:

“Para Skinner, os comportamentos são selecionados através da tríplice contingência. Os componentes da mesma são: 1 – Nível Filogenético: que corresponde aos aspectos biológicos da espécie e da hereditariedade do indivíduo; 2 – Nível Ontogenético: que corresponde a toda a história de vida do indivíduo; 3 – Nível Cultural: os aspectos culturais que influenciam a conduta humana.

Através da interação desses três níveis (onde nenhum deles possui um status superior a outro) os comportamentos são selecionados. Para Skinner, o ser humano é um ser ativo, que opera no ambiente, provocando modificações no mesmo, modificações essas que retroagem sobre o sujeito, modificando seus padrões comportamentais.” (Wikipédia)

Posted By: Edgard Costa
Last Edit: 31 Mai 2010 @ 06:38 AM

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 25 Out 2009 @ 10:27 AM 

Homo SapiensAcabo de assistir uma gravação que fiz da Odisseia, de um recente documentário da BBC (2009) sobre a ocupação pré-histórica da Europa. Um entre os diversos pontos que abordaram, dizia respeito a prevalescência do Homo Sapiens e da extinção do Homem de Neandertal.

As primeiras teorias diziam que os nossos antepassados diretos detinham maior capacidade intelectual e por isto maiores capacidades alimentares. Alguns preconizaram que fosse mesmo o confronto entre as duas espécies primas que determinaram o desaparecimento da segunda.

Mas neste excelente documentário levantaram outra hipótese, que é concordante com outras coisas que já li anteriormente, principalmente com Gordon Childe entre outros, em que o que haveria determinado a continuidade de nossa espécie foi a nossa capacidade nata de fazer arte e de construir, o que chamaram no documentário, de redes sociais.

A descoberta de uma flauta, talvez o mais antigo instrumento musical encontrado, entre outros instrumentos encontrados anteriormente, o que pressupõem a existência de uma bem estabelecida tradição musical, para além das diversas pequenas esculturas e desenhos, que pela semelhança (principalmente das Vénus) encontradas ao longo de toda a Europa de a 35.000 anos, deixa transparecer uma característica marcante de nossa espécie que é a da transmissão, conservação e passagem de uma cultura comum que estabelece, fortalece e solidifica uma sociedade humana europeia, mesmo antes de existir o conceito de Europa.

Este estabelecimento e difusão de uma cultura num tão largo espaço teria sido um dos factores determinantes para o sucesso desta espécie em detrimento de nossos primos, que detinham basicamente a mesma tecnologia na criação de ferramentas e mesma capacidade de obtenção de alimentos, porém viviam em pequenos grupos isolados entre si.

Portanto, as redes sociais são antes de mais nada uma característica humana, bem como a busca pelo desenvolvimento da tecnologia de comunicação que estabeleça estas redes. Todos os mecanismos de comunicação desenvolvidos a partir da massificação da tecnologia digital, fazem parte de um processo ancestral, por que não dizer instintivo, do ser humano moderno que colonizou a Europa a cerca de 40.000 anos.

Se, na visão de alguns, isto reduz ou deforma nossos seres, é um engano: somos nós próprios a nos exprimirmos de nossa maneira.

Como a língua, o meio de comunicação é dinâmico e está sempre em mutação, mas os que se estabeleceram num dos muitos formatos de expressão de ideias, irão sempre criticar os meios de comunicação que substituem os que foram utilizados no passado. Justifica-se pela tradição, mas não escondendo o medo de ser ultrapassado e de deixar, um dia, de poder se comunicar.

Dos livros que tenho lido sobre redes sociais, o que mais me marcou no presente foi sem dúvida o do sociólogo espanhol Manuel Castells, A Sociedade em Rede. Deste mesmo autor encontrei um artigo interessante que trata do medo que o poder tem da Internet.

Posted By: Edgard Costa
Last Edit: 26 Out 2009 @ 09:48 PM

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 06 Ago 2009 @ 4:25 PM 

A base teórica mais clara que tenho sobre a ideia da artificialidade da civilização surge bem organizada e sistematizada nas palavras de Herbert Marcuse. De um texto acerca de suas ideias, retidado da Wikipédia, destaco o seguinte trecho onde se definem estas questões:

“Marcuse retoma de Hegel duas noções capitais, a idéia de “Razão” e a idéia de “Negatividade”. A Razão é a faculdade humana que se manifesta no uso completo feito pelo homem de suas possibilidades. Não se pode compreender a “possibilidade” longe do conceito de “necessidade”. O que necessitamos? A necessidade nos dirige a certos objetos cuja falta sentimos. A possibilidade mede o raio de nosso alcance face a tais objetos. Se quero um apartamento mas não tenho dinheiro para comprá-lo, o objeto de minha necessidade é o apartamento, e a medida de minha possibilidade é o dinheiro que me falta. É muito fácil compreender como a falta de dinheiro representa um bloqueio falso, fictício, á satisfação de meu desejo. Na realidade posso ter o apartamento, mas certas convenções sociais, que respeito de modo mais ou menos acrítico, me impedem de possuí-lo. Ao mesmo tempo, se me interrogo a respeito da minha necessidade face ao apartamento, essa também se dissolve. O apartamento é um símbolo de status social, ou resultado de certas convenções visando ao gosto que seriam, em outras condições, muito discutíveis, e que nem sempre me possibilitam morar satisfatoriamente. A minha necessidade se revela, portanto, como uma falsa necessidade, assim como o bloqueio pela falta de dinheiro das minhas possibilidades era um bloqueio falso. Onde se encontram, então, minhas necessidades e minhas possibilidades? Como compreenderemos o que e Razão? Marcuse muito se preocupa com este problema ao longo de toda a sua obra, sempre polêmica.” (Wikipédia)

Posted By: Edgard Costa
Last Edit: 06 Ago 2009 @ 05:05 PM

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