23 Jun 2009 @ 5:08 PM 

Ele só servia mesmo se estivesse morto e daquela forma, sendo este o elemento de ligação entre este post e o anterior.

Posted By: Edgard Costa
Last Edit: 24 Jun 2009 @ 11:44 AM

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Categories: Piada
 23 Jun 2009 @ 10:06 AM 

Lembro-me de um dia ter perguntado a minha mãe o porque de se tapar o rosto de uma pessoa que morria na rua, em público. Ela respondeu-me que isto se fazia em respeito a privacidade daquele indivíduo que não deveria ter o seu sofrimento exposto publicamente, principalmente naquele momento, pois a morte exigia a dignidade. Acho que compreendi, naquela hora, mas me colocou ao longo da vida muitas questões.

Sempre quis saber porque eram proibidos para crianças os filmes com cenas de violência, principalmente quando mostrava-se sangue. Lembro-me que este era um dos critérios dos juízes de menores na hora de classificar a idade mínima para se assistir a um filme. Tinha esta dúvida já que a primeira coisa séria que mostravam a estas mesmas crianças era a imagem de um homem morto, pregado numa cruz, ensanguentado da cabeça aos pés. Quando eu via aquela imagem forte, a  única coisa que pensava, lembrando-me dos ensinamentos de minha mãe, era que aquele homem não teria merecido a dignidade em sua morte.

Mas depois, quando cresci, estudei e aprendi mais do que aquilo que gostariam que eu soubesse, soube que algumas mortes, para serem didáticas, eram feitas até mesmo no centro de praças públicas, como se de um show aquilo se tratasse e com crianças a assistir. Descobri que afinal, a morte pode ser indigna desde que ela sirva de alguma coisa aos que ficam. Se dela se puder retirar algum proveito, a dignidade do morto deixa de ter importância. Talvez tenha importância para os familiares mais próximos daquela vítima, mas para as pessoas as quais aquele corpo ensangue pode representar algum benefício, não há nada, nem humano nem divino, que faça com que respeitem a privacidade.

É como se mostrassem, com a exposição do sofrimento de uma pessoa, que as suas ideias tem razão ou que são mais fortes do que a daqueles que alegadamente matam, independente da própria vontade do morto em se expor como mártir, naquele momento em que não pode opinar. Aquela morte passa a ser propriedade da causa.

Poderia aquela pessoa estar casualmente a passar por uma manifestação qualquer, mas fosse morta naquele momento, transforma-se-ia imediatamente em ícone da reivindicação dos que se manifestam. Consigo ainda imaginar que poderia, até mesmo, ter sido morta pelo simples fato de ser bela e exibir este predicado onde isto é proibido. Poderia (por que não ?) ter sido morta pelos próprios manifestantes, por ser bela, por não usar o véu, por, com sua beleza e não mais do que isto, argumentar silenciosamente a favor da causa. Sei que somos capazes disto. Já o vi antes.

A dignidade na morte é relativa. Se ela é preservada pode representar que esta perda somente causa a natural dor nos que perdem aquele ente, pais, filhos, companheiros, etc. Mas dependendo das circunstâncias em que se morre, a imagem da morte pode transformar-se em ícone, modelo, símbolo. Por maior que seja o sofrimento provocado com a exposição desta imagem naqueles que verdadeiramente amam o morto.

E pensar que a exposição daquela morte tem mesmo é o objetivo de causar impressão e fixar na mente de todos aqueles que vem aquela imagem forte, para que não se esqueçam jamais, não do morto, mas da causa.

Fala-se hoje em dia na possibilidade da pessoa se expressar em plena consciência sobre a sua vontade em ter a vida preservada por instrumentos ou se aceita de bom grado a eutanásia. Acho que deveriam abrir um espaço também para que as pessoas dissessem se querem ou não ser transformadas em ícones de uma causa qualquer, caso venha a morrer em circunstâncias interessantes a esta causa.

Isto tudo devido a idiota mania que temos de ver as coisas somente com os nossos próprios olhos, só pensando realmente no outro, na medida em que este outro nos sirva para qualquer coisa.

PS: Confesso que aquilo que disse aqui ontem foi por intuição. Imaginei tudo aquilo quando disse “Poderia …”. Porém, de certa forma, e até com precisão, acertei na maioria das coisas que imaginei. Sorte e um pouco de influência dos 50 anos que estou aqui a ver coisas e mais coisas. A confirmação da história pode ser encontrada na edição de hoje (24/06) do  Público, de onde destaco a importância da criação do mártir na cultura iraniana. Foi inclusive motivo para o Marco “Bitaites” Santos destacar em seu blogue a propriedade do que aqui expressei, blogue este onde nasceu a motivação  para o postal e de onde vem a inspiração para este aqui.

Posted By: Edgard Costa
Last Edit: 24 Jun 2009 @ 08:40 PM

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