17 Jul 2009 @ 9:52 AM 

Musicalmente fabuloso, a maior mensagem que pude captar do grande espetáculo que ontem assisti, Branford Marsalis e a Orquestra Metropolitana de Lisboa, regida por Cesário Costa, tocando músicas de Heitor Villa-Lobos, entre outros, mais eu dizia, a maior mensagem que captei, e pude transmitir ao meu filho mais velho, foi uma clara mensagem de humildade.

Pois estava alí, diante de nossos olhos um dos maiores saxofonistas do mundo. Depois de uma primeira música, de um excelente compositor brasileiro, Camargo Guarnieri, não tão conhecido quanto Villa-Lobos, mas que já me surpreendeu, entrou o Brandford Marsalis para tocar os três movimentos, sem partitura, ao estilo jazz, as Fantasias para saxofone, do Villa-Lobos, de uma forma sublime. Seguiu-se a sua interpretação da Aria da Bachiana Brasileiras nº5 (*), obra-prima, a qual eu já havia ouvido em diversas interpretações, ao vivo e gravadas, inclusive com a própria Maria Lúcia Godoy ao vivo no Teatro Municipal no Rio, mas que, pelo momento, pela música, por quem a tocava e, sobretudo, a forma respeitosa que tocava, me levou às lágrimas.

Mas a mensagem veio a seguir. Depois de um pequeno intervalo para reorganização do espaço para um formato de orquestra de câmara, os músicos entraram e se sentaram a espera do maestro. Entre eles, e no meio da orquestra estava sentadinho o Branford Marsalis. Meu filho não havia dado por ele, a não ser quando começou a tocar. Ao final da peça, depois dos aplausos dados a peça, o maestro Cesário Costa saiu do palco e todos os músicos permaneceram sentados. Inclusive, e a exemplo de todos os outros o próprio Marsalis. Foi preciso o maestro voltar a sala e apontar para o centro da orquestra, para que Branford Marsalis se levantasse e recebesse a sua parcela, exclusiva digamos assim, de aplauso, o qual não o fez sem antes pedir que todos se levantassem junto com ele. Naquele momento ele não era a mesma estrela que tocara a frente da orquestra, como fizera até então, mas apenas mais um dos músicos daquele conjunto que tocara com brilhantismo.

Imediatamente pude dizer ao meu filho: -”Humildade. Uma das características comuns a todos os melhores do mundo em sua espécie. As pessoas tem que saber que ainda há o que aprender e melhorar sempre, para que possam continuar a subir, independente da idade que tenham. O dia em que as pessoas se convencem de que são as “melhores do mundo” em seja lá o que for, começam imediatamente a entrar em declínio.”

É preciso, antes de mais nada, humildade para se chegar onde aquele senhor chegou, para além, é claro, de horas e mais horas de treino e estudo, as quais sem humildade é muito difícil suportar.

PS: Ontem ainda assisti a um grande filme chamado It’s a Free World

(*)Uma brilhante interpretação de Amel Brahim, e aqui abaixo a letra, de Ruth Valadares Corrêa, que foi quem interpretou-a pela primeira vez:

Tarde uma nuvem rósea lenta e transparente.
Sobre o espaço, sonhadora e bela!
Surge no infinito a lua docemente,
Enfeitando a tarde, qual meiga donzela
Que se apresta e a linda sonhadoramente,
Em anseios d’alma para ficar bela
Grita ao céu e a terra toda a Natureza!
Cala a passarada aos seus tristes queixumes
E reflete o mar toda a Sua riqueza…
Suave a luz da lua desperta agora
A cruel saudade que ri e chora!
Tarde uma nuvem rósea lenta e transparente
Sobre o espaço, sonhadora e bela!

Todo o trecho em bold (negrito) é cantado em uma só nota, descobrindo-se de onde o Tom Jobim tirava algumas ideias. 🙂

Posted By: Edgard Costa
Last Edit: 17 Jul 2009 @ 10:45 PM

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