02 Mai 2008 @ 12:07 AM 

É… pelo bem de alguns valores pelos quais nutro profunda lealdade vou começar por dar minha opinião sobre alguns assuntos relativos a Second Life. Mas o farei tomando como ponto de partida algumas coisas que tenho lido em outros blogs sobre o assunto e em particular a um post. Este.

É que discordo do que lá está posto, no texto e nos comentários, e concordo em grande parte com o que disse o Sr. Rosedale.

O que ele disse numa entrevista, pelo que se entende para justificar sua saída do cargo de CEO da empresa que criara, foi basicamente que se fartou daquilo, a exemplo de outros outrora activos utilizadores. E ao sair deixou claro alguns dos motivos que fe-lo tomar esta atitude.

Se não vejamos algumas coisas do que ele disse:

  1. “A única coisa que os utilizadores de Second Life têm em comum é que têm muito tempo.”
  2. “Os utilizadores nas grandes cidades como Nova Iorque ou Los Angeles passam menos tempo em Second Life, não apenas porque estão ocupados mas porque têm menos necessidade de se refugiar num mundo alternativo e anónimo.”
  3. “Mau tempo, regimes opressores, pobres condições económicas – assim se cria um utilizador de Second Life.”

1. Para além de um computador rápido, uma excelente placa de vídeo e acesso de banda larga à Internet, que são aspectos técnicos mas ao que parece o Sr. Rosedale não falava disto mas das pessoas, realmente uma atributo fundamental para se estar na Second Life (SL) é tempo na Real Life (RL).

É necessário disponibilidade para se realizar as coisas por lá, uma vez que tudo o que se possa fazer de divertido e/ou lucrativo naquele ambiente demanda tempo (e dinheiro). Não estou a ver uma pessoa que trabalhe o dia todo, e que esteja realmente ocupada no trabalho, e que não tenha “vontade” de entrar na SL do trabalho para depositar o avatar num camping afim de fazer dinheiro, a passar seus tempos livres a vagar pela SL por muito tempo, a não ser que seu trabalho seja lá dentro.

A maior parte das pessoas com quem falei lá dentro tinham características interessantes. Só para exemplificar, a maior parte das mulheres com quem conversei durante um período em que tive um clube noturno que promovia festas de 4 horas de duração, que estavam sempre cheias, tinham uma característica em comum: eram mães de recém-nascidos o que pressupõe um superavit de tempo e a “prisão”, por assim dizer”, num local fixo e em casa. Notável também é que a maior parte delas desapareceu da SL. Fartaram-se ou os filhos cresceram.

2. E aqui estão colocados, em minha opinião, os dois pontos fulcrais dos motivos de decepção do Sr. Rosedale com a sua Second Life: a) As pessoas que realmente o interessariam que estivessem na Second Life, por representarem uma camada da sociedade norte-americana de maior poder aquisitivo, não estão nem aí para a SL porque as Ferraris, as mansões, as roupas que compram, etc., o fazem na RL e; b) pelo contrário, estas pessoas não querem estar anónimas, antes disto querem mostrar todo o seu poder financeiro.

O dado importante desta afirmação, e que vai de encontro com as coisas que aqui neste blog afirmo e afirmarei quanto a SL, diz respeito ao carácter de anonimato sendo mesmo este o motivo de tornar a SL tão particular. Mas disto falaremos mais tarde e em outros postais.

3. Se na RL estiver um belo dia de Sol, aquela linda mulher desacompanhada, com corpo escultural, cabelos (quase) perfeitos, pele bronzeada, andar sexy, roupas provocantes ficará em casa passeando na SL com o seu imperfeito avatar ou irá para à praia exibir todos os seus dotes? Sinceramente, querem que eu responda? Se as pessoas por trás daqueles avatares belíssimos, dentro dos padrões da SL é claro, fossem tão belos na RL quanto o são na SL, simplesmente não estariam lá!

Das (poucas) pessoas que conheço na RL e que têm avatares frequentadores da SL, nenhuma delas correspondem em juventude, porte físico e beleza estética ao avatar que possuem. A SL definitivamente é uma segunda vida e, penso eu, por lá as pessoas são bastante daquilo que gostariam de ser mas que não podem ser na realidade.

No primeiro parágrafo de livro “Virtual Worlds – Rewiring your emotional future”, Jack Myers faz uma afirmação que está bem de acordo com a forma como encaro a SL, e acredito que não estou sozinho nisto:

“Virtual Worlds ™ are 21st Century versions os 1960s mind-expanding drugs, but they are expanding more than just the mind. Virtual worlds and enhanced social networks allow us to explore new universes, expand our emotional range and depth, change the nature of communications and create different identities for ourselves. You can now create multiple versions of yourself with different names, gender, ethnic heritage, passions, dreams and even relationships.” (Myers, Jack and Weinstein, Jerry – Virtual Worlds – Rewiring your emotional future – página 9 – Myers Publishing, LLC – New York – 2007)

E são aqueles, acredito, que têm dificuldades na relação com as pessoas na RL as mais propensas a experimentar esta fantástica possibilidade de ser muitas pessoas, muitas formas de si própria. Por mais que se tente dar sua personalidade a um avatar ele sempre será apenas isto, um avatar, ou seja uma representação gráfica de um utilizador que pode ou não corresponder com a condição humana real desta pessoa representada.

Concluo destas palavras do Sr. Rosedale que ele está tão farto disto quanto qualquer outra pessoa que se tenha frustrado com esta sua segunda vida. Talvez mesmo por tentar ser na segunda a mesma coisa que na primeira e descobrir que afinal o jogo é tão chato, enfadonho e injusto quanto a vida real.

Mas é nesta fantástica maneira de atribuir mimetismo ao ser humano onde mora justamente a grande força deste ambiente. Acredito que seja exactamente a possibilidade de se poder viver infinitas vidas que me alicia nesta SL. Trocar de personagens como uma pessoa troca de roupa todos os dias, ou de penteado, cor do cabelo, ou mesmo de aparência com os adornos, tatuagens ou cirurgias plásticas, etc., é que me atrai. Poder colocar uma tatuagem hoje, sem dor e retirá-la amanhã ou substitui-la por outra é que faz este mundo virtual interessante.

Me apraz e estimula intelectualmente manter diversas memórias particulares das diversas personagens que crio, cada uma delas com sua personalidade própria, círculo de amigos particular, sonhos, realizações, desejos e ambições. Se a dupla personalidade é um distúrbio psíquico na RL na SL a múltipla personalidade é um predicado.

Depois continuo. Até a próxima.

Posted By: Edgard Costa
Last Edit: 18 Jul 2008 @ 10:49 AM

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