Revendo todos os clips dele, que estão a passar exaustivamente na MTV, pensei numa coisa. Vidinha de merda este gajo teve. Condenado a prisão perpétua a nascença aprendeu desde pequeno, em casa, que tinha que viver para entreter as pessoas.
Nunca foi a escola talvez para que não soubesse que tinha alternativas, como o Truman Burbank não poderia sair de sua redoma. Desta forma resolveu dedicar a nossa diversão todos os momentos de sua vida. Perdeu a infância pra que nós nos divertíssemos. Descobriu a sexualidade em público, esdruxula como não poderia deixar de ser, para que nos divertíssemos. Casou e teve filhos só para que não o chamassem de pedófilo ou viado, o que não era nada divertido para ele, apesar de parecer muito engraçado para alguns.
Mostrou-nos por diversas vezes, mesmo quando não quis, não fossemos buscá-lo em casa de mãos algemadas para mostra-lo ridiculamente velho, derrotado na tentativa vã de vencer o tempo, mostrou-nos a velhice precoce de quem com os mesmos 50 anos que eu, viveu pelo menos mais 10 vezes do que tive a oportunidade de viver.
Um entertainer, até na hora da morte, muito isto ainda renderá e causará intensamente aquilo o que toda a arte quer provocar: sentimentos e sensações.
Toda a sua vida é uma imensa obra de arte pequena, que tem o único objetivo de divertir, como o futebol ou as antigas execuções em praças públicas (lembrando-me daquelas feitas pelo Sadam Housem nos mesmos objetivos do esporte).
Um show em que o entertainer é morto a cada olhar, a cada pensamento, a cada manifestação de interesse pela vida, pelo rosto, pelo corpo, pelo dinheiro. A cada exemplar vendido da obra, a cada fila, a cada ponto de audiência que damos aqueles que falam, mostram, emitem qualquer som ou imagem. A cada grito, aplauso, afirmação, sorriso. A cada fotografia, a cada lágrima. A cada um que se agrega a legião de fãs… pelos entretidos que não fazemos mais que contribuir para a sua morte. Primeiramente do mito, depois do homem.
Só nos esquecemos, sempre esquecemos disto, é que ambos são nossos próprios filhos.