15 Out 2009 @ 5:10 PM 

Nós somospPrimatasEm complemento ao Marco “Bitaites” Santos, sobre um outro comentário seu, sincero e pessoal, num post provocatório, com comentários escabrosos que tratavam de racismos, xenofobias e mulheres bonitas, eu escrevi o seguinte que acho que se aproxima muito de um resumo daquilo que tento demostrar neste blog. Foi mais ou menos assim:

Ele afirmou isto: “Não sei há quanto tempo o Nelson Évora está cá em Portugal, sinceramente, mas deve ser há tempo suficiente para ter assimilado, e feito sua, a nossa cultura.” No que eu tentei complementar com o seguinte:

Marco, eu ainda iria um pouco além. Não existe propriedade sobre culturas. Não existe a nossa, a vossa ou a deles. Existe uma única cultura humana, impregnada aqui e ali com condicionantes específicas determinadas pela ação física do ambiente e por características históricas locais. Mas a cultura é eminentemente humana. Uma janela manuelina em Alcobaça é bonita, certamente, mas nunca será mais que uma janela. O túmulo de Cristovão Colombo em Sevilha é lindíssimo e impressionante, mas não serve pra mais nada além do que servirá o meu túmulo.

Todos temos o mesmo conjunto de necessidades básicas que nos motivam a reunir em nosso redor, enquanto indivíduo, o conjunto de propriedades e ferramentas que nos garantam antes de mais nada a vida. Percebemos, há milhões de anos, que atingimos mais facilmente nossos objetivos comuns reunidos em grupos sociais, a partir do momento que temos limitações físicas que nos impedem de caçar sempre que temos fome e que nossa principal fonte energética é a proteína encontrada principalmente na carne de outros animais.

Se fossemos herbívoros talvez tivéssemos desenvolvido asas, e não a língua e os blogues, e estaríamos por aí a cantar empoleirado em árvores, comendo apenas pequenos insetos que por lá passassem, de vez em quando. Mas nossa necessidade de proteína é maior que isto, o que gera a urgência de maior quantidade de carne, e água, o que nos obriga, já enquanto pequeno grupo, a determinar um território de caça com fronteiras bem definidas.

O ser da mesma espécie que ultrapasse as “nossas” fronteiras (e que pode vir a comer a “nossa” comida, beber a “nossa” água), e ainda mais se tiver alguma pequena diferença, nem que seja somente linguística, é automaticamente rechaçado. É eleito inimigo, sem se quer queremos saber quem é. A não ser que eles. “os invasores”, nos sirvam para alguma coisa, como os cães. Se eles, de alguma forma, nos proporcionarem benefícios, e enquanto os proporcionarem, viverão em paz conosco. Mas desde o momento em que nos passe a incomodar, voltam a ser inimigos e passam a ser alvo de ataques para que se afastem de nosso território. Caso sejam mais fortes, vamos nós é ter que procurar outro. Ou sumimos, mesmo que representemos uma rica civilização.

Mas, o processo de apropriação do território e determinação de fronteiras, e reunião de seres humanos comuns que se aceitam razoavelmente na mesma área de caça (*), é arbitrário. Homem nenhum é proprietário de terra alguma neste nosso planeta, cada vez mais pequeno, a não ser pelo que está escrito em papéis, que se desbotarão, se queimarão ou se perderão, com o tempo.

O único quinhão de terra a que o homem tem direito, enquanto indivíduo, e mesmo assim é provisório, é o espaço que seu corpo ocupa do nascimento até a momentos depois de sua morte. Mas, lá está, o próprio tempo se encarregará de mesmo este espaço funerário ser ocupado por outra coisa que já não será mais aquele indivíduo ali deixado, a não ser na lembrança dos que por aqui ficarem. E isto é verdade para qualquer membro da espécie animal, seja ele daqui ou dali, desta ou daquela cor, credo ou convicção política, legado, poder, força, etc.

Carrega toda a cultura humana a capacidade negra e africana, dos primeiros hominídeos pouco mais que chimpanzés (e a quantificação diz respeito ao desenvolvimento do neocórtex), de procurar e explorar este pequeno mundo em busca de satisfação. Já o fizemos com os pés no chão. Hoje o fazemos com a ponta dos dedos nos teclados e ratos. Mas continuamos a buscar a mesma coisa que o primeiro homem: nosso destino. E este destino comum é de todos, sempre foi e sempre será. Todos apodrecerão da mesma forma, na mesma velocidade e com o mesmo cheiro, independentemente da conta bancária, do sítio onde mora, da cor, da língua, do que for.

Mas continuamos a buscar dignidade, enganados achando que isto é proteína. Buscamos poder, achando que isto garantirá aos nossos entes queridos mais segurança e conforto, o que é o mesmo que dizer melhores condições de sobrevivência. Continuamos a acreditar que isto é melhor que aquilo e que assim seremos maiores e mais fortes que os outros, o que nos dá a ideia de estarmos mais próximos do sucesso. Somos tolos, fazer o que?

O Nelson Évora não é preto, não é português, não é nada além dele mesmo. Um indivíduo capacitado fisicamente a saltar mais longe do que a maioria dos outros humanos, o que já foi um handicap utilíssimo, principalmente quando se estava a fugir para salvar a própria pele. Handicap este tão admirado pelos outros humanos, que ainda hoje é premiado quem o tem.

Mas não é nada a mais, nem a menos, do que isto. Um primata de uma ordem específica, exatamente igual a mim ou a você. Temos é handicap diferentes, uns físicos outros intelectuais. Ainda bem. É exatamente esta diversidade que forma e enriquece a nossa cultura, que é de propriedade de todos os seres humanos do planeta.

Isto para dizer que é esta enganadora noção de propriedade da cultura, da terra ou da verdade que proporciona a distinção, os conceitos feitos a priori, a crispação, os ódios.

Sempre acreditei que seria a Internet a nos mostrar que não somos nada mais do que bits, 0s ou 1s, acesos ou apagados, vivos ou mortos. Espero ainda estar aqui para ver isto.

(*) que alguns chamarão de pátria, palavra derivada de patriarcado, que descende do grego pater, que significa pai ou dos pais, ou provedor da sobrevivência de seus filhos. A pátria é o próprio pai e mãe! Uma tradução livre de pátria seria mesmo a terra de nossos pais, aquela onde sempre vivemos e onde estºao enterrados a nossa família. O sentimento de propriedade da terra está intimamente ligada ao sentimento primário dos humanos, o amor dos pais.

Posted By: Edgard Costa
Last Edit: 18 Out 2009 @ 10:38 PM

EmailPermalink
Tags


 

Responses to this post » (None)

 

Sorry, but comments are closed. Check out another post and speak up!

Tags
Comment Meta:
RSS Feed for comments

 Last 50 Posts
 Back
Change Theme...
  • Users » 2
  • Posts/Pages » 169
  • Comments » 27
Change Theme...
  • VoidVoid « Default
  • LifeLife
  • EarthEarth
  • WindWind
  • WaterWater
  • FireFire
  • LightLight

.eu



    No Child Pages.

Objetivo



    No Child Pages.