O ser humano, desde que toma alguma consciência do mundo que o rodeia, ainda na infância, tem sempre pelo menos uma coisa muito clara em sua mente: para tudo há um princípio e um fim.
O dia começa com o nascimento do Sol e termina horas depois. Todos os dias, inexoravelmente. E vemos isto, e tomamos consciência, mesmo que nisso não pensemos.A vida dos animais e das pessoas começam e terminam, nascimento e morte. Um beijo materno começa com o toque da sua boca na face do filho e termina com seu afastamento. O prato de comida termina, o tempo termina, a sede, o frio, o calor, o banho, tudo, tudo começa e termina algures.
A complexa noção de não existência, existência e retorno ao nada, começa a se formar ainda em tenra idade, embora não sistematizada. E talvez seja mesmo isto que nos distingua dos outros animais. Talvez seja mesmo esta a chave para a compreensão de nossa inteligência: temos antes de mais nada a consciência do princípio e do fim. Não me parece que qualquer outro animal tenha a concepção do final das coisas, ou pense de onde ou como se originam as coisas. Tem-nas simplesmente, ou não as tem, mas não preocupam-se em sua existência, do princípio ao fim. Simplesmente tem-nas ou não.
E este é também o princípio do conceito dual que se reflete em tudo o que fazemos e pensamos. Considero isto um defeito nosso, pelo facto de que mais nenhum animal ter esta propriedade.
Se olharmos bem para tudo o que fazemos e pensamos, perceberemos que este conceito dual está sempre presente. E é isto que tentarei discutir aqui nesta série de postais sobre a dualidade.
O próximo que escreverei será sobre aquilo a que os cientistas sociais chamam de dualidade perfeita, que é a conceção do bem e do mal representados nas figuras de Deus e Satanás. Até lá proponho um exercício interessante de reflexão: tentem identificar onde está o princípio da dualidade na Economia, na escrita e na História.