14 Set 2009 @ 5:05 PM 

Umas e outras há muitas, menos as primeiras que as segundas, mas sempre há muitas. Na condição especial da adorada virgem mãe, esta é que, se isto for possível, pelo que dizem, só mesmo uma.

Mas uma das explicações possíveis para a história da virgem nos conta que nos tempos de Maria, a mulher que cometesse o adultério era simplesmente apedrejada. Infelizmente, também pelo que contam, isto ainda acontece nos dias de hoje. Consta que o “santo” José, ao voltar de viagem, encontrou a sua muito mais nova esposa, Maria, grávida, possivelmente, de um de seus irmãos mais novos. O “santo” José, para não punir o irmão e a jovem mulher, assumiu aquela história do anjo violador de virgens, mas que por ser anjo não desvirginava a virgem, mas que causava a gravidez na mesma. Coisas banais de “santos”.

De forma geral, ao longo da História, encontramos em vários, quase todos, os agrupamentos sociais maneiras de execrar, banir, punir, ostracizar, o membro que erra. O erro é uma componente inerente da condição humana, mas dependendo do erro, e das consequências para com os nossos semelhantes, a punição é exemplo para os outros, afim de evitar o erro e/ou dar uma dimensão da avaliação a que aquele grupo social dá ao erro.

Hoje em dia já não se pratica o apedrejamento da adultera (imagina se o fizessem!), Mas o apedrejamento ainda é praticado em nossa sociedade ocidental, quase todos os dias e, principalmente, com as pessoas públicas. Aquelas das quais ficam dia e noite à porta de casa, esperando que sejam humanos como nós e façam alguma coisa que, mesmo que não seja nada errada, possa ser dado uma conotação de erro.

Mas quando erram então, estas figuras públicas são mesmo apedrejadas, fuziladas! Já não se usam pedras ou balas, mas perguntas, câmeras e disparos das máquinas fotográficas digitais.

Isto tudo passou aqui por minha cabeça, porque vi uma cena de apedrejamento público feito contra a Serena Willians, logo a seguir a ocorrência do, talvez, aquele que tenha sido o seu maior erro: disse para uma juiz de linha oriental, o que me fez lembrar dos japoneses ou dos vietnamitas, após esta ter lhe marcado uma falta de pé, num segundo saque, o que deu o “match point” a adversária Kim Clijster, disse-lhe que a mataria! Ainda tentou negar isto na quadra, nas explicações aos responsáveis do torneio, mas nada adiantou, foi mesmo punida com um ponto o que deu a vitória a tenista belga.

Os desportistas de alta competição tem um privilégio que poucos tem: a eles é reservada uma sessão de apedrejamento automático ganhe ou perca. É automático e compulsório exatamente para que ele não possa fugir das sessões de conferência de imprensa quando lhe convier, como seria o caso dos dias em que erram como Serena errou. Se fosse opcional, Serena por lá não teria aparecido, Mas como se lá não fosse seria chamada de tudo, de covarde para baixo, lá foi ela ser apedrejada passivamente, como que caminha para um pelotão de fuzilamento. Com dignidade, sempre, mas apedrejada a cada movimento fotogénico, que a envergonha e incomoda. Mas faz parte do show, que afinal deve continuar. Está escrito em seu contrato de milhões de dólares que sempre tem que ir as sessões de apedrejamento, independentemente do tamanho e da direção das pedras.

É impressionante ouvir os arremessos das “pedradas” exatamente nos momentos em que a maior fragilidade “espiritual” se apresenta em gestos com charme e dignidade, porém desajustados para o momento, que deveria ser da mais profunda humildade. Como os lobos ou cães, ela deveria, queriam os fotógrafos, ter aparecido por ali com o “rabo entre as pernas”. Mas ela é a Serena Williams. Seu saldo bancário e seu status social a isso não permitam. Mas que procuram, procuram e lançam as pedras.

Por que do apedrejamento? No momento das palavras, no ato do xingamento, quando agimos desgovernados dos conceitos sociais que nos norteiam o dia a dia, nos reprimem as sensações e nos condicionam as ações para sermos sociais, não há nada que exista a não ser nós próprios e nosso instinto. Não existe Deus, Jeová, Maria… não existe santo nenhum que nos detenha em nossos impulsos humanos. Sejam eles movidos pela raiva ou pelo desejo sexual. Há que depois admitir, assumir os erros e inventar uma desculpa qualquer para nossos atos, porque nos apedrejados de nossa cultura ocidental, a vida continua.

E no final até se saiu bem. 10.000 dólares menos milhonária, mas se saiu bem, imaculada. Disse até que nunca brigara com ninguém… uma santa… fez caras, gestos e poses disto. Daqueles que constam em nosso imaginário social que antes eram eternizados pelos mestres da pintura, mas que agora são feitos pelos fotógrafos.

Posted By: Edgard Costa
Last Edit: 03 Nov 2009 @ 11:02 AM

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