24 de Fevereiro de 1993, cerimónia da entrega dos 35º Grammy. Janet Jackson introduz a apresentação do Grammy para lendas deste ano, seu irmão Mickel Jackson. Depois de uma revisão da brilhante carreira até então, como se aquilo fosse um manual de como se tornar uma lenda, Janet chama seu irmão que entra no palco aplaudido de pé por toda a indústria, inclusive por monstros sagrados da música, como Eric Clapton, e atira com o seguinte discurso:
“Bem… eu também te amo. – respondendo a irmã e a pessoas no plateia que gritavam “Michal I love you” – Obrigado, Espero que isto acabe definitivamente com outro rumor que está na imprensa a muitos anos. – Chama a irmã, abraça-a e sorrindo diz – Janet e eu somos realmente duas pessoas diferentes.” – E ri-se francamente, de uma piada em privado. E segue seu discurso:
“No último mês passei de “onde ele está?” para “ei-lo novamente” – risos na plateia – Mas eu preciso confessar que é bom ser tratado como uma pessoa, e não como uma personalidade. Não leio tudo o que escrevem sobre mim. Eu não sabia que o mundo me achava tão estranho e bizarro. Mas quem cresce diante de 100 milhões de pessoas desde os cinco anos de idade, é automaticamente diferente. Nas últimas semanas, eu me purifiquei. Foi um renascimento. – referindo-se a entrevista dada a Oprah Winfrey onde ele revelara muitos dos absurdos que diziam a seu respeito, incluindo a revelação de que contraíra uma doença de pelo, o vitiligo, que o manchara todo de partes mais claras e que isto não significava a negação de sua origem racial, mas sim uma doença – Purifiquei o espírito. Também amo vocês. – novamente respondendo a gritos da plateia – Eu não tive infância alguma. Não havia Natal, aniversários, não foi uma infância normal. Os prazeres da infância foram trocados por trabalho, luta e dor e um eventual sucesso material e profissional. O preço e não poder recriar essa parte da vida, nem eu trocaria nenhuma parte dela. Quando crio uma música hoje, sinto-me um instrumento da Natureza. Que prazer sente a Natureza quando expressamos o talento que Deus nos deu. O som de aprovação ecoa em todo o Universo e o mundo se enche de magia. Nosso coração fica maravilhado quando vislumbramos a alegria da vida. É por isso que adoro crianças e aprendo tanto com elas. – Porque são inocentes, ainda isentas de maldades, diria eu – Percebo que a maioria dos problemas do mundo de hoje, da criminalidade urbana às guerras e terrorismo, e as prisões superlotadas, resulta do fato das crianças terem sua infância roubada. A magia, o mistério e a inocência do coração de uma criança são as sementes de criatividade que vão curar o mundo. – Heal the world, nome de uma de suas músicas obrigatórias em todas as apresentações ao vivo. – Creio realmente nisso. – Aplausos. – Também amo vocês. – Depois de mais gritos da plateia – Temos muito o que aprender com as crianças. São o nosso elo com a sabedoria mais profunda que está sempre presente. – Elo com a real Natureza Humana, ainda sem os artifícios da civilização. – Sabem o caminho para soluções que estão em nossos corações. Quero agradecer a todas as crianças do mundo inclusive aos pobres e doentes. Sua dor me sensibiliza muito. Agradeço também a todos que me ajudaram a canalizar meu talento. De início aos meus pais, todos os meus irmãos e irmãs, especialmente a Janet. Tenho tanto orgulho dela. Quando pequenos, ela era a Ginger Rogers, e eu, Fred Astaire. – E depois segue com os agradecimentos de praxe a todos da indústria discográfica que o ajudaram em sua carreira e fizeram de seu último disco Dangerous um sucesso, sei esquecer daquele a que chamou de “maravilhoso Quincy Jones, que produzira os seus discos anteriores mas não este último e a todos os fãs no mundo. – Eu amo vocês todos”.
Depois disto foi o que se viu. Um descalabro onde disseram que ele “amava” tanto as crianças, que até dormia com elas. O que era verdade: como ele admitiu algumas crianças dormiam em seu rancho de diversões, Neverland. Mas ninguém conseguiu ver isto com inocência. A conotação sexual de um artista que francamente mostrava ter problemas com a própria sexualidade (ver-se-ia um anjo?) destruiu sua carreira, seu discurso, sua História.
Tenta-se agora, com sua morte, rever e recuperar algum do respeito que conseguiu reunir ao longo da carreira. Espera-se que mais uma vez seja a primeira impressão que perdure e não a impressão que aquela mesma imprensa que ele tantas vezes criticara fez questão de criar. Fizeram questão de criar uma anti-moda Michael Jackson. Tornaram vergonhoso admirar, falar bem, gostar de sua música, embora nunca se tivesse provado nada, na Justiça, contra ele.
Se ele errou? Claro, todos nós erramos. E o seu maior erro foi desafiar a imprensa, preferindo tomar chá na mesma xícara com seu macaco, o famoso Bubble, do que sentar-se ao lado de qualquer jornalista. Nunca o perdoaram. Nem aqueles a que ele mandou irem se foder em Leave me Alone, nem nenhum outro, em parte alguma do mundo, que hoje, não conseguem ver que ele realmente foi um Artista tremendamente talentoso e tudo fez em sua vida para entreter as pessoas e dar alguma felicidade, com raras exceções. Louvável.
Continuar a dizer que Michael e Janet eram a mesma pessoa, ao ponto deles terem de fazer juntos o fantástico clip da música Scream, para mais uma vez provar o contrário e mostrar que eram capazes se fazer as mesmas coisas, como passes de dança quase impossíveis, como levantarem-se do chão da posição de joelhos para a de pé, juntos, continuar a dizer isto, para quem tem a obrigação de informar e de ter o conhecimento de momentos como este, ou este, é nó mínimo perversos. Muito maldoso. Vende jornais, é certo, mas aproveita-se da ignorância das pessoas para fazê-lo. Logo aqueles que deveriam ter a nobre função de informar. Podres jornalistas que ajudam a criar a nossa artificial civilização, por vezes sem escrúpulos, com mentiras. Como acreditar nestes rebentos da marafona?
Dos risos sinceros vistos nas imagens do discurso que encontrei no YouTube em 1993, a imagem de desespero expressa na foto do clip de Scream, música feita em 1995 já depois das acusações de abuso sexual das mesmas crianças que ele aqui dizia amar, e das insistentes afirmações de que Michael e Janet eram as mesmas pessoas, vai uma distância incrível e demostra o assassinato que foi cometido a carreira e, antes de mais nada, a ambas as pessoas. Primeiro Michael, depois Janet, com aquele infeliz episódio com Justin Timberlake. Nunca mais os vimos com tanto vigor depois daquele fabuloso clip.
Tento entender o porque crucificamos todos os ídolos que nós próprios criamos. Por que?
Aqui o fabuloso clip de Scream. A letra traduzida pode ser encontrada aqui. Clique em “Menu” para escolher outro vídeo de Michael Jackson.