Mas este tipo de reação é recursivo. Já ocorreu com a televisão e seu enlatamento do conhecimento. Ocorreu na música, como com o CD, onde críticos acusaram Karajan de espremer as sinfonias para caber na média. Já, já aconteceu com os jornais quando comparados com os livros, e com os livros, redutores a aprisionadores de histórias que antes circulavam livremente somente com as palavras.
O desenvolvimento e crítica da massificação da comunicação segue o fluxo da História da tecnologia que suporta a difusão da própria comunicação. E como tudo que é massificante é, necessariamente, redutor, comprimido, condensado de forma a circular para mais e mais pessoas.
E é, principalmente, imutável. O que está escrito assim está e passa a ser um agente classificador de quem o escreve, mesmo que este mude de ideia minutos apois ter escrito. E por saber disso, quem escreve passa a dizer muito menos do que poderia, sob pena de ser acusado de sei lá o que. O próprio processo de massificação, cujo blogue é um exemplo, é redutor por natureza, por ser massificante.
Mas a doença social a que o Pacheco Pereira se refere não passa de um agravamento de uma doença que já existe a muitos anos e que foi a mesma que impediu que os génios da música não sejam encontrados em nossos dias, nesta geração vigente. E quem diz da música diz da literatura, do cinema, do teatro, etc. A arte, expressão popular do conhecimento e forma particular de comunicação, de certa forma se pasteurizou com o advento da TV, primeiro grande objeto tecnológico de comunicação de massa ao nível global.
O ser humano mudou definitivamente desde então, e continua a mudar de uma forma assustadoramente veloz e o resultado disso ainda é completamente imprevisível, acredito. O que somos hoje não é absolutamente o que éramos a 30 anos, nem a 20, nem a 10. A 5 anos nem tantas crianças tinham telemóveis.
O anúncio dos 7M da TMN só indicam que, num mercado de no máximo 10M de pessoas já existe um conjunto enorme com mais que um telemóvel. Para que? Será isto doentio? Será isto apenas mais um erro proporcionado pelos exploradores do mercado que pouco se preocupam com a saúde das pessoas desde que vendam mais e mais dos seus produtos e lucrem mais?
Está tudo a mudar muito rapidamente e ainda não há uma compreensão, uma visão de conjunto, do quadro geral daquilo o que somos e para onde vamos. A velocidade a abrangência da informação nos dias de hoje detona de forma definitiva todo o tipo de “verdade” que foi estabelecido no passado, mas que dependia da dificuldade na circulação da informação para sobreviver enquanto “verdade”. A religião e a política são os mais atingidos por isto.
Mas se estes são dois dos principais pilares da civilização ocidental, o que vem a seguir? É nisso que tenho pensado nos últimos 10 anos.
A real revolução que hoje vivemos está no poder que nos foi dado, pela Internet, em escolher aquilo que queremos ver, ler ou ouvir. Já não dependemos de um intermediário, normalmente corrompido por um sistema que fazia “aparecer” mais o produto “artístico” daqueles que detinham mais dinheiro. Mas a mesma característica democrática que nos permite a liberdade de escolha e/ou produção da própria arte com meios públicos de difusão, abre espaço ao lixo. Temos que ser muito mais seletivos.
A educação tem que mudar. Já não nos serve um modelo professor/aluno onde aquele ensina a estes o que uns outros julgaram ser importante que fosse ensinado. Hoje cabe mais ensinar o desenvolvimento do espírito crítico, para que se possa avaliar a qualidade e/ou propriedade do que se divulga, do que um conjunto qualquer de conhecimentos pré-concebidos para dar “ferramentas” aos cidadãos de amanhã que já não serão aquilo que hoje somos e que aqueles que avaliaram os conhecimentos a serem difundidos eram.
Estamos no meio de uma revolução, onde o revolucionário convive conturbadamente com o arcaico, como em toda a revolução, mas que ninguém sabe exatamente para onde iremos. Não há cabeças da revolução, como um Jean Jacques Rousseau ou Vladimir Ilitch Lenin. Esta revolução é nossa, agentes revolucionários e revolucionados ao mesmo tempo, e que nunca tivemos tanta liberdade e pode para construir o nosso futuro.
A maior crise que esta revolução proporciona é a crise do poder, como citou Pacheco Pereira, e como é Pacheco Pereira.
Foucault de certa forma previu isto no fabuloso Microfísica do Poder, onde ele dizia que o poder não se detêm e que não há divisões entre os que tem e os que não tem poder. O que havia era uma atribuição aqueles que praticavam e exerciam o poder. O que hoje existe, e é esta a força da Internet, é que o poder se expande e atinge a um número muito maior de pessoas que deixam de ser meros espectadores para passar a serem eles próprios produtores e difusores de informação e conhecimento. A opinião hoje é efetivamente livre, como nunca antes foi.
…
Como uma mensagem no Twiter, este comentário tenta somente resumir algumas das coisas que tenho pensado, visto e estudado. Será que tive o poder de síntese necessário para transmitir toda a abrangência destas ideias.
Concordo com o Pacheco Pereira, há uma doença social grave. Discordo dele no diagnóstico e nas atribuição das causas. É anterior e muito mais abrangente, sendo ele próprio um agente mediático desta pasteurização da informação.
Faz hoje 80 anos que ocorreu, em 25 de Outubro de 1929, o que se convencionou chamar de “Crash” da Bolsa de Valore de Nova York.
Fruto de uma mera explosão de uma bolha especulativa que se instalara nos 5 anos anteriores, a semelhança do que aconteceu recentemente (2000) com o NASDAQ, as ações caíram de forma abrupta levando a diversos investidores a falência, pelo facto de terem contraído empréstimos bancários afim de investir na bolsa, iludidos pelos ganhos consistentes dos últimos anos.
O que fica para a História é a especulação anterior ao “Crash” que demostrou claramente que se poderia inventar valores monetários para empresas e aplicações, afim de especular criminosamente com o dinheiro, o que faz alguns ricos mas que provoca, ao final dos tempo, milhões de pobres.
Há ligações diretas entre este “Crash” e a Segunda Guerra Mundial, inclusive justificando em parte a ascensão dos governos totalitários na Europa, na Itália, Espanha, Portugal e, sobretudo, na Alemanha.
O descalabro financeiro provocado pelo “Crash”, conhecido como Grande Depressão, determinou o pior e mais longo período de recessão económica que há registo na História, caraterizado por elevadas taxas de desemprego, inflação e baixas taxas de produção industrial e consumo.
No cinema, dos filme que assisti e que melhor me ilustraram o que se passou, foi o Ovo da Serpente, de Ingmar Bergman, onde eram demostradas as cenas das pessoas consumindo e vendendo carne dos cavalos que por ventura morressem em público.
Segundo alguns analistas a crise global que vivemos nos dias de hoje é a pior desde a Grande Depressão marcada pela quinta-feira negra em 24 de Outubro de 1929
Um inglês, John McLaughlin, e um espanhol, Paco de Lucia, tocando a fabulosa música de um brasileiro, Egberto Gismonti.
Só o Egberto mesmo para me lavar a alma de tanta estupidez. Estou novamente feliz. Sempre que quero me esquecer de como as coisas são, ouço Egberto Gismonti para verificar que afinal existem alternativas belas e inteligentes.
Por que o sonho terminava
Quando o dia amanhecia
No espelho
Vinha um medo desse gosto morto do passado
Mergulhado na memória
Eu não queria que a vida findasse no abismo desse quarto
Amargando amargurada solidão
Por que a hora se esvazia
Na memória do espelho
Como um fado
Teço o fio do meu sonho cheio de mistério
Um rosário de silêncio
E a minha boca fechada com medo das sombras desses anjos
Que se foram e não voltam nunca mais
Geraldo Carneiro, para música de Egberto Gismonti.
Uma brasileira ofendeu aos portugueses. Carago! Eu tenho dupla nacionalidade. O que devo sentir? Vergonha ou ofensa?
Pensei, pensei e pensei. Concluí então que não devo sentir nada, somente indiferença. Ela, a brasileira, é uma pessoa maior, vacinada, independente e livre. Disse o que disse porque quis e não me consultou antes de dize-lo. Da mesma forma disse-o por estupidez própria e, por ser completamente estúpido, não pode me ofender.
Se eu fosse me envergonhar e/ou me ofender com as coisas que dizem todos os estúpidos que indiretamente me afetam, não faria outra coisa na vida. Dar ouvidos e razão a estúpidos não é um esporte que me atraia.
Ouvir (ler) as reações estúpidas de portugueses a estupidez da brasileira e me ofender com isto, da mesma forma estaria a dar ouvido a estúpidos.
Portanto: + d 100 comentários.
Vou passar a colecionar argumentos. Tem uns que colecionam selos, outros moedas, chaveiros, borboletas, Candida Albicans, etc. Eu colecionarei argumentos.
Talvez não seja nem tão original assim. Acredito que os advogados e os políticos sejam meros colecionadores de argumentos. Mas eu tentarei fazer diferente.
Tentarei colecionar todos os argumentos contra e a favor dos assuntos polémicos de nossos dias, afim de te-los catalogados para ler no futuro e verificar se algum dia alguém chegou perto de ter razão. Principalmente sabendo que com o passar do tempo a discussão vai ficando inócua, irrelevante, transparente como os argumentos passados para os quais já se descobriram outros argumentos contrários.
O motivo da discussão em si não tem nenhum valor. O valor está no argumento, na eloquência, no discurso e, sobretudo, na vitória (vitória e derrota, mais uma forma com que a dualidade se apresenta).
Então, em assuntos como religião, holocausto, futebol, política (o que não é política?), aquecimento global, beleza, Microsoft, Linux, homem na Lua, etc, armazenarei numa memória eletrónica qualquer, porque não há massa encefálica que suporte tanta informação, e os guardarei, sejam eles contra ou a favor.
Não, nunca, pretenderei chegar a conclusão alguma, pois já percebi que ela simplesmente não existe. Mas o fascínio pela vitória das palavras (lembrando-me da descrição do dia do Juízo Final da Bíblia) proporciona argumentos e mais argumentos. Frágeis, sinceros, ignorantes, prepotentes, ambíguos, mentirosos, eloquentes, irrefutáveis, inegáveis, concupiscentes, irritantes, arrogantes, irrisórios, engraçados, inteligentes, inocentes, criminosos, incriminadores e indecentes.
São muitos, variam tanto quanto as intenções imediatas. A mesma pessoa pode argumentar de forma contraditória acerca do mesmo assunto, dependendo da intenção. Só não deve faze-lo para a mesma pessoa, se não vira maluco.
Diversas, muitas, milhões de pessoas podem dizer a mesma coisa durante muitos anos e aquilo estar, verifica-se no fim, absolutamente errado. Mas não esteve durante anos para todos aqueles. O que os faz errado é a vitória de outro ponto de vista defendido com, lá está, outros argumentos. Que pode criar por si só outros dogmas, outras verdades absolutas que se verificarão erradas no futuro. Mas estão sempre certas num determinado momento.
Argumentando-se encontra-se as razões até mesmo de Hitler, Leopoldo II, Чингис Хаан (Genghis Khan, para os íntimos), para quem se quiser. Se não houvesse argumentos eles simplesmente não existiriam. Se não lhes dessem crédito, ou se este crédito fosse medido como o outro, pelos bancos, talvez tanta desgraça não tivesse ocorrido.
Argumentos e mais argumentos. Guardarei-os todos que encontrar. Aliais, pensando bem, é mesmo isto que venho fazendo já há muitos anos. E não sou só eu. Uns fazem mais que outros. Uns tem mais cuidado na escolha e na fundamentação do que outros, mas todos colecionam, apresentam e defendem argumentos. Sejam eles quais forem. Sejam os assuntos quais forem. Tenham ou não relevância para nossa vida imediata. Mas são argumentos e mais argumentos.
Ainda não os coleciono, mas já começo a me fartar.
Eu vivo sempre no mundo da Lua
Porque sou um cientista homeopata
futurista e lunático
Eu vivo sempre no mundo da Lua
Tenho alma de artista sou um génio
sonhador e romântico
Eu vivo sempre no mundo da Lua
Porque sou um aventureiro
desde o meu primeiro passo
no infinito
Eu vivo sempre no mundo da Lua
Porque sou inteligente
se você quer vir com a gente
venha que será um barato
Pega carona nesta cauda de cometa
ver a Via Láctea
estrada tão bonita
Brincar de esconde esconde
numa nebulosa
voltar pra casa
em um lindo balão azul
Pega carona nesta cauda de cometa
ver a Via Láctea
estrada tão bonita
Brincar de esconde esconde
numa nebulosa
voltar pra casa
em um lindo balão azul
Pega carona nesta cauda de cometa
ver a Via Láctea
estrada tão bonita
Brincar de esconde esconde
numa nebulosa
voltar pra casa
nosso lindo balão azul
Pega carona nesta cauda de cometa
ver a Via Láctea
estrada tão bonita
Brincar de esconde esconde
numa nebulosa
voltar pra casa
nosso lindo balão azul
nosso lindo balão azul
nosso lindo balão azul
nosso lindo balão azul
Guilherme Arantes
Não tenho muita dúvida e não é por fundamentalismo. Acho que voto no Seara (PSD) aqui em Sintra, sem grandes problemas. Mas para primeiro ministro… Só me resta votar no Partido Socialista.
Do maior partido de oposição, o PSD, não me vem nada que inspire confiança. Para além disso acho mesmo de extremo mal gosto o discurso do país de tanga, dos termos trágicos que a candidata insiste em perfilar. Justo ela que contribuiu sobre maneira, enquanto ministra das finanças, para elevar o déficit de Portugal a níveis descontrolados, seguido por aquelas medidas descabidas (apropriação de capital do fundo de pensões da CGD) para suster o descalabro orçamental.
Sempre nutro uma simpatia pela esquerda, mas não sinto firmeza no Jeronimo de Sousa, a quem vejo mesmo como um romântico ingênuo (deixei de acreditar numa solução de esquerda desde 1991), simpático é verdade, mas sem consistência, pouco eloquente.
O Louçã por vezes me parece ter que fazer algum malabarismo intelectual para manter a coerência ideológica. Acabou por se tornar um mero fiscal da moralidade, sem um discurso claro no que diz respeito a suas próprias ideias políticas, É difícil estar-se na extrema esquerda num mundo onde já não cabem mais tais ideias. Não acredito que alguém ainda veja uma ditadura do proletariado como solução económica. Pelo que li, nem o Marx acreditava nisso.
Na outra extrema, o Paulo Portas não me convence em nada do que diz. Soa falso, politiqueiro, oportunista. Fala de coisas para as quais não apresenta soluções viáveis e que em nada melhoraram quando ele passou por lá, pelo poder. Sei lá, não me convence intelectualmente.
Resta o Partido Socialista. Se adoro o PS? Nem um pouco. Já admirei profundamente o Mário Soares. Mas o Sócrates, que me desiludiu já na campanha passada, quando percebi a quantidade de vezes que ele perde-se naquilo que diz, não me convence na totalidade. O seu discurso é bastante fraco. Perto de um Santana Lopes, parece um menino. Porém este, um mestre do discurso, já não é a mesma coisa no que diz respeito a ação. Daí Sócrates supera em muito o rival. Se a ação é a mais indicada ou não, já é outro assunto que daria postais e mais postais, mas não é este o meu propósito.
O Sócrates é perseverante, determinado, nunca perde os seus objetivos de vista. Porém, estas qualidades todas também podem ser vistas como teimosia. Por um lado é bom, muito bom, mas por outro … nem por isto.
Em minha opinião, não há candidato melhor. Pena que se nivele por baixo. Poderia dizer também que é o menos pior, mas é indiscutivelmente aquele que reúne neste momento as melhores condições para conduzir o país. Já obteve uma forte vantagem política frente ao político Presidente da República, que só me faz sentir saudades de Jorge Sampaio.
Poderia mesmo acrescentar que a atuação de Cavaco Silva reforçam mais ainda minha convicção em votar no PS. E é o que farei, no Domingo, com orgulho de ser português e poder dar minha opinião num país que respira democracia por todos os poros.
Sou um socialista e ainda tenho uma visão romântica do socialismo, que imagino poder ser muito mais do que tem sido aqui em Portugal. Mais justo socialmente, mais progressista no que diz respeito as relações dos indivíduos e suas liberdades incondicionais, mais próximos daquilo a que Mário Soares um dia sonhou, com tanto idealismo quanto eu tive nos tempos de faculdade. Mais preocupado com a vida e com a qualidade dela, menos voltado para o capital e mais preocupado com o humano.
Ainda acredito que haverá um socialismo moderno capaz de revolucionar as relações sociais, mas que é, em minha imaginação, alguma coisa muito diferente do que tem sido hoje. Tentarei abordar melhor este tema em outros postais. E de certa forma o tenho feito ao apontar as artificialidades de nossa civilização que ainda caminha na infância do desenvolvimento social. Voltarei a este assunto, mas por agora vou mesmo é votar no Partido Socialista.
PS (Não, não é propaganda, mas Post Escriptum): E parece que não estou mal acompanhado.
Umas e outras há muitas, menos as primeiras que as segundas, mas sempre há muitas. Na condição especial da adorada virgem mãe, esta é que, se isto for possível, pelo que dizem, só mesmo uma.
Mas uma das explicações possíveis para a história da virgem nos conta que nos tempos de Maria, a mulher que cometesse o adultério era simplesmente apedrejada. Infelizmente, também pelo que contam, isto ainda acontece nos dias de hoje. Consta que o “santo” José, ao voltar de viagem, encontrou a sua muito mais nova esposa, Maria, grávida, possivelmente, de um de seus irmãos mais novos. O “santo” José, para não punir o irmão e a jovem mulher, assumiu aquela história do anjo violador de virgens, mas que por ser anjo não desvirginava a virgem, mas que causava a gravidez na mesma. Coisas banais de “santos”.
De forma geral, ao longo da História, encontramos em vários, quase todos, os agrupamentos sociais maneiras de execrar, banir, punir, ostracizar, o membro que erra. O erro é uma componente inerente da condição humana, mas dependendo do erro, e das consequências para com os nossos semelhantes, a punição é exemplo para os outros, afim de evitar o erro e/ou dar uma dimensão da avaliação a que aquele grupo social dá ao erro.
Hoje em dia já não se pratica o apedrejamento da adultera (imagina se o fizessem!), Mas o apedrejamento ainda é praticado em nossa sociedade ocidental, quase todos os dias e, principalmente, com as pessoas públicas. Aquelas das quais ficam dia e noite à porta de casa, esperando que sejam humanos como nós e façam alguma coisa que, mesmo que não seja nada errada, possa ser dado uma conotação de erro.
Mas quando erram então, estas figuras públicas são mesmo apedrejadas, fuziladas! Já não se usam pedras ou balas, mas perguntas, câmeras e disparos das máquinas fotográficas digitais.
Isto tudo passou aqui por minha cabeça, porque vi uma cena de apedrejamento público feito contra a Serena Willians, logo a seguir a ocorrência do, talvez, aquele que tenha sido o seu maior erro: disse para uma juiz de linha oriental, o que me fez lembrar dos japoneses ou dos vietnamitas, após esta ter lhe marcado uma falta de pé, num segundo saque, o que deu o “match point” a adversária Kim Clijster, disse-lhe que a mataria! Ainda tentou negar isto na quadra, nas explicações aos responsáveis do torneio, mas nada adiantou, foi mesmo punida com um ponto o que deu a vitória a tenista belga.
Os desportistas de alta competição tem um privilégio que poucos tem: a eles é reservada uma sessão de apedrejamento automático ganhe ou perca. É automático e compulsório exatamente para que ele não possa fugir das sessões de conferência de imprensa quando lhe convier, como seria o caso dos dias em que erram como Serena errou. Se fosse opcional, Serena por lá não teria aparecido, Mas como se lá não fosse seria chamada de tudo, de covarde para baixo, lá foi ela ser apedrejada passivamente, como que caminha para um pelotão de fuzilamento. Com dignidade, sempre, mas apedrejada a cada movimento fotogénico, que a envergonha e incomoda. Mas faz parte do show, que afinal deve continuar. Está escrito em seu contrato de milhões de dólares que sempre tem que ir as sessões de apedrejamento, independentemente do tamanho e da direção das pedras.
É impressionante ouvir os arremessos das “pedradas” exatamente nos momentos em que a maior fragilidade “espiritual” se apresenta em gestos com charme e dignidade, porém desajustados para o momento, que deveria ser da mais profunda humildade. Como os lobos ou cães, ela deveria, queriam os fotógrafos, ter aparecido por ali com o “rabo entre as pernas”. Mas ela é a Serena Williams. Seu saldo bancário e seu status social a isso não permitam. Mas que procuram, procuram e lançam as pedras.
Por que do apedrejamento? No momento das palavras, no ato do xingamento, quando agimos desgovernados dos conceitos sociais que nos norteiam o dia a dia, nos reprimem as sensações e nos condicionam as ações para sermos sociais, não há nada que exista a não ser nós próprios e nosso instinto. Não existe Deus, Jeová, Maria… não existe santo nenhum que nos detenha em nossos impulsos humanos. Sejam eles movidos pela raiva ou pelo desejo sexual. Há que depois admitir, assumir os erros e inventar uma desculpa qualquer para nossos atos, porque nos apedrejados de nossa cultura ocidental, a vida continua.
E no final até se saiu bem. 10.000 dólares menos milhonária, mas se saiu bem, imaculada. Disse até que nunca brigara com ninguém… uma santa… fez caras, gestos e poses disto. Daqueles que constam em nosso imaginário social que antes eram eternizados pelos mestres da pintura, mas que agora são feitos pelos fotógrafos.