Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão de meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!
Não vejo nada assim enlouquecida…
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!
Tudo no mundo é frágil, tudo passa…”
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!
E, olhos postos em ti, vivo de rastros:
“Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: princípio e fim!…”
Florbela Espanca
Mas é que política aqui tem sido isto. Não vejo ninguém a propor soluções concretas para problemas reais que afligem a todas as pessoas. A única coisa que vejo são ataques pessoais, tentativa de desestabilizar ou retirar credibilidade aos governantes ou aqueles que pensem em governar. E de volta uns ataques contra aqueles que acusam ou mesmo contra os que apoiam.
Pessoas famosas deixarão absolutamente de declarar apoio político a A ou a B porque senão ainda é acusado de participar em lavagem de dinheiro ou outro tipo de contravenção. Por vezes funciona como foi com o Paulo Pedroso, acabada está a promissora carreira política vítima de especulação. Ou com Carlos Cruz que teve a vida vasculhada atrás de uma pisada na bola qualquer no passado para tirar força ao partido que ele apoiava. Até com o Figo! Ferro Rodrigues… Não respeitam ninguém! É como se dissessem “não te metas aqui que ainda sais chamuscado”.
E tem sido isso. Casos e mais casos. Freeport, submarinos, BPN, Casa Pia, TVI/PT (este então é ridículo, abrindo-se uma CPI (isso custa dinheiro? Não deveriam estar a gastar dinheiro noutra coisa?) para saber se o PM falou a verdade ou mentiu no parlamento ao dizer que não sabia do caso, na qualidade de PM),etc. Etc.
Cascudo! Tenho tirado o som da TV nos telejornais quando falam de política. Assim como tiro quando as notícias de esporte não falam de nenhum jogo em campo mas em problemas extra-campo. Ou quando ao invés de noticiarem a dimensão de uma catástrofe, preocupam-se em mostrar o detalhes dos mortos, ao vivo. Um mortinho que seja é mais importante que milhares de desabrigados. O que importa é o drama de quem se foi e não o dos que ficaram, sem casa, sem vida, sem nada. Quer dizer assisto ao Telejornal sem som.
Por que? Porque é ridículo! A política que se faz em Portugal é ridícula! Seja ela no parlamento, na FPF, na Liga de Clubes, na assembléia gerla de condóminos aqui do meu edifício! Fala-se em política e confundem imediatamente com perjúrio, acusação, enfraquecimento do indivíduo independentemente do resultado de seu trabalho. Ninguém está minimamente disposto a construir nada, mas sim em destruir a imagem daquele que tenta, ou bem ou mal, fazer alguma coisa objetiva.
Dizer que o PM está manso é uma ofensa ao homem por trás do PM e não ao cargo político. E o homem continua a ser humano, sempre, e como todos nós passível de todas as nossas sensações. Inclusive do erro. E da legitima vontade de mandar um gajo que te ofende ir para a puta que o pariu. E acredito que o façam em off. Errado ali não foi a resposta do José Sócrates, mas sim a câmera cuscando as suas palavras. O importante é a manifestação humana natural e não a cultural! Ridículo! É pouco, não tem importância.
Importante é o presidente checo querendo saber de Cavaco (que deve ter pensado que calmo era a tia do presidente checo, talvez até dito entre os dentes, mas ninguém filmou) como ele pode estar tão calmo com um déficit de 8% quando ele está a tremer com um de 5%! Quais as consequências para todos nós de um déficit desta dimensão? A tia do Louçã é mais importante que isto? Calmo é sinónimo de manso? Um povo de brandos costumes é um povo manso? O que o Louça queria ver acontecer na AR, a solução concreta de nossos problemas reais ou um PM manso? Qual a importância que isto tem, sem ser para o Louçã que provocou ao PM e disso ainda tentará, ou alguém tentará, fazer mais um caso político? Ridículo! E por ser ridículo, vira notícia!
Acho que o José Sócrates hoje perdeu um voto. É que duvido que a tia do Louçã tenha votado no Louçã. Mas ter sido “homenageada” em particular pelo PM, não deve ter sido uma experiência agradável. Tipo a mãe do juiz de futebol. Não deve ser nada bom.
Ainda mais que se o Louçã vai almoçar aos domingos na casa da tia e faz discurso político quando ela gostaria de estar a falar das febras, sei lá… acho que nem ela vota nele… mas no Sócrates ela não vota mais. Nunca mais…
É que de vez enquanto dá mesmo vontade de mandar uns gajos ir à merda. Nem sempre é possível, mas que dá, dá. Esta semana mesmo tive o prazer de mandar um cliente ir à merda. Dá um prazer enorme! Clientes são como as cegonhas: vem e vão. Mas poder mandar ir as favas um gajo que pensa que te faz de palhaço, dá sempre prazer, mesmo que seja um cliente.
Hoje foi a tia do Louçã. Noutro dia foi o outro que mandou umas cornadas. Dá prazer, dá, não tenham dúvida. Acho que vou tentar institucionalizar o dia internacional do politicamente incorreto. Um dia em que ao invés de dizer mentiras, como fazemos nos outros dias todos inclusive no dia 1º de Abril, diríamos impropérios aqueles que acreditamos merecer. Principalmente aqueles que acham que são melhores que você em seja lá o que for. Aqueles que apesar de sentarem numa privada (retrete) e cagar igualzinho a você, acreditam ter atributos melhores que os teus. Acreditam que os vermes que comerão a sua carne terão pedigree. Sei lá…
Hoje foi a tia do Louçã. Esta semana foram uns clientes meio pentelhos que se sentiam merecedores de respeito, apesar de não respeitarem às pessoas. Dia desses quem será?
Olha! O Papa. Vamos mandar o Papa ir à merda? Mandar ele comer criancinhas lá pra casa do caralho? Que tal? Nem que seja num cartaz…
Mas a tia do Louçã… sei lá. Acho que ela não tinha nada a ver com isto.
Hoje eu pensei nisso, com naturalidade, ao escrever sobre tecnologia no blog de um amigo, desses que nunca o vimos, feitos pela Internet.
O meu compadre, padrinho do meu primogénito, um dia disse, de forma brilhante, uma coisa que hoje está acontecendo cada vez mais rápido. E o disse em forma de poema. Milton Nascimento musicou e cantou, mais uma vez, com maestria.
Ele disse assim:
Eu já estou com o pé nessa estrada
Qualquer dia a gente se vê
Sei que nada será como antes, amanhã
Que notícias me dão dos amigos?
Que notícias me dão de você?
Alvoroço em meu coração
Amanhã ou depois de amanhã
Resistindo na boca da noite um gosto de sol
Num domingo qualquer, qualquer hora
Ventania em qualquer direção
Sei que nada será como antes amanhã
Que notícias me dão dos amigos?
Que notícias me dão de você?
Sei que nada será como está
Amanhã ou depois de amanhã
Resistindo na boca da noite um gosto de sol
Ronaldo Bastos
E o amanhã, nos dias que correm, é cada vez mais próximo, quase hoje. Será um dia ontem? Talvez, mas eu também sei que nada será como antes, amanhã.
PS: Sobre o meu compadre uma coisa interessante que uma portuguesa ilustre um dia disse. Uma dia (uma noite pra ser mais preciso) ele me apresentou a ela, no balcão de chopp da Pizzaria Guanabara, no Baixo Leblon, como a sua namorada portuguêsa. Não fazia idéia de quem ela era e acho que só hoje associei. Muitas canções cantadas por ela depois…
Por vezes eles dizem e até mesmo mostram com simplicidade, porque são geniais. Neste caso é mesmo simples de entender. Mas de executar …
Hoje ouvi, com todas as palavras, uma notícia no jornal da hora do almoço na RTP1 com a qual fiquei esclarecido e estupefato: a jornalista anunciou o final do sonho da tenista Justine Henin que, após 20 meses de ausência das quadras, em seu retorno conseguiu “somente” atingir a final do primeiro torneio que participou. Somente! Como se isto fosse pouco para quem esteve 20 meses parada. É… quantos mortais tenistas femininas conseguiram chegar “somente” a final daquele torneio? Ela e a Kim Clister. Me parece bem. Tem umas e outras que são mais jovens e mais ativas e que nem entraram no tal torneio, quanto mais, chegarem “somente” a final.
Porque esclarecido? Há realmente um ponto de vista necessariamente negativo na visão do jornalismo nacional, e que reflete sobremaneira a visão geral do país e de seus habitantes.
Faz relativamente pouco tempo que obtive a graça. Agora, na passagem de ano, pela primeira vez fiz uma viagem como cidadão português. Tive até que mostrar o documento no hotel. Mas depois de pensar bastante sobre o assunto, ao me ver brasileiro e português, cheguei a uma simples conclusão: não faz a menor diferença. Continuo a ser a mesma pessoa e terei o mesmo destino. Não sei ainda onde serei enterrado, mas tenho certeza que o serei
Realmente eu não posso ficar seis horas fechado num sítio com muitas pessoas, como me aconteceu noutro dia, na Loja do Cidadão das Laranjeiras (Lisboa), afim de tirar o meu cartão do cidadão.
É que este tipo de evento me faz pensar em demasia, em analisar todas as pessoas que passam a minha frente. Tenho esta mania. Estas pessoas apresentam fartos elementos para manter ativa esta minha incessante procura de explicação para aquilo o que somos. Para os porque(s)?
Vi muitas coisas, pensei em muitas coisas mas uma me marcou em particular, sendo sublinhada todos os dias em que assisto aos jornais na TV portuguesa, que foi a pequena história de um menino que vi, também por muitas horas, na mesma fila que eu.
Impaciente, não compreendendo por que tinha que ficar parado ali naquele espaço cheio de gente, sem poder brincar livremente, presumo, o menino expressava isto espontaneamente, como as crianças fazem com naturalidade antes de serem “educadas” a não serem naturais e espontâneas, porque isto ofende as outras pessoas.
Por sua impaciência a mãe, na tentativa de resolver o problema, e sabedora, pela absurda e dolorosa demora que os números insistiam em se manter parados no reluzente painel eletrónico, de que aquilo iria levar ainda muito tempo, dizia que a mãe resolveu tentar controlar o impeto do pequeno rapaz. Levou-o a rua, num pequeno centro comercial que há mesmo ao lado da Loja do Cidadão. Devem ter comido, ainda era manhã, mas uma coisa ela fez, certamente, porque eu vi: comprou-lhe um belo brinquedo para acalmar o rapaz.
Não sei se o resultado foi o esperado, porque quando o vi de volta, com a enorme caixa do brinquedo na mão, ainda reclamava com a mãe a presença naquele espaço. – “Não quero voltar para aqui mãe. Vamos pra casa!” – dizia o menino. Não cheguei a ouvir o que a mãe lhe disse ao ouvido, mas eu sabia que ela não poderia dali sair.
Na hora só pensei, sob o ponto de vista da mãe, que o menino estava a fazer chantagem. – “Manda pra cá um brinquedo para que eu fique aqui nesta merda de lugar contigo. Mas agora que o tenho, quero com ele brincar e aqui não é o espaço apropriado” – me parecia dizer o menino com sua atitude.
Mas depois, vendo a TV, comecei a pensar sobre o ponto de vista do rapaz. Ganhamos um doce de presente quando somos bonzinhos. Ganhamos um belo presente de Natal se tiramos boas notas. Ganhamos um brinquedo de presente para ficarmos quietos na Loja do Cidadão. Se calhar um computador portátil de presente quando entramos na faculdade pública e um carro de presente ao sair dela formados. Uma casa de presente para irmos embora definitivamente, talvez.
Depois, porque teve uma bela educação, o nosso hipotético menino (que bem pode ser qualquer um de nós) por ventura assume um cargo público qualquer.
Daí vem a minha questão: por que diabo ele faria alguma coisa pelo simples fato de que a tem que fazer? Seja por profissionalismo, por abnegação, por patriotismo, solidariedade, seja lá por que for, por que ele faria alguma coisa pela qual não recebesse alguma coisa em troca, de presente?
“Não, o salário não serve”, pensaria o rapaz, “já que é o valor que me pagam pela compra de minha força de trabalho. Com esta força posso fazer qualquer coisa, boa ou má. Mas as coisas que proporcionam benefícios as outras pessoas, sejam eles financeiros ou de qualquer outro valor, são coisas especiais, que vão além daquilo que um funcionário público tem que fazer normalmente. Se este cargo público for um cargo de eleição então …” – mais motivos ainda tem o nosso rapaz de querer muitos presentes, para fazer bem a tantas pessoas que ele nem sabe quem são.
Tá bem… é uma teoria redutora, mas me parece que somos nós, educadores, que criamos e fomentamos a corrupção.
Sempre precisei
De um pouco de atenção
Acho que não sei quem sou
Só sei do que não gosto…
E nesses dias tão estranhos
Fica a poeira
Se escondendo pelos cantos
Esse é o nosso mundo
O que é demais
Nunca é o bastante
E a primeira vez
É sempre a última chance
Ninguém vê onde chegamos
Os assassinos estão livres
Nós não estamos…
Vamos sair!
Mas não temos mais dinheiro
Os meus amigos todos
Estão procurando emprego…
Voltamos a viver
Como há dez anos atrás
E a cada hora que passa
Envelhecemos dez semanas…
Vamos lá, tudo bem!
Eu só quero me divertir
Esquecer dessa noite
Ter um lugar legal prá ir…
Já entregamos o alvo
E a artilharia
Comparamos nossas vidas
E esperamos que um dia
Nossas vidas
Possam se encontrar…
Quando me vi
Tendo de viver
Comigo apenas
E com o mundo
Você me veio
Como um sonho bom
E me assustei
Não sou perfeito…
Eu não esqueço
A riqueza que nós temos
Ninguém consegue perceber
E de pensar nisso tudo
Eu, homem feito
Tive medo
E não consegui dormir…
Vamos sair!
Mas estamos sem dinheiro
Os meus amigos todos
Estão, procurando emprego…
Voltamos a viver
Como a dez anos atrás
E a cada hora que passa
Envelhecemos dez semanas…
Vamos lá, tudo bem
Eu só quero me divertir
Esquecer dessa noite
Ter um lugar legal prá ir…
Já entregamos o alvo
E a artilharia
Comparamos nossas vidas
E mesmo assim
Não tenho pena de ninguém…
Quem me dera
Ao menos uma vez
Ter de volta todo o ouro
Que entreguei a quem
Conseguiu me convencer
Que era prova de amizade
Se alguém levasse embora
Até o que eu não tinha
Quem me dera
Ao menos uma vez
Esquecer que acreditei
Que era por brincadeira
Que se cortava sempre
Um pano-de-chão
De linho nobre e pura seda
Quem me dera
Ao menos uma vez
Explicar o que ninguém
Consegue entender
Que o que aconteceu
Ainda está por vir
E o futuro não é mais
Como era antigamente.
Quem me dera
Ao menos uma vez
Provar que quem tem mais
Do que precisa ter
Quase sempre se convence
Que não tem o bastante
Fala demais
Por não ter nada a dizer.
Quem me dera
Ao menos uma vez
Que o mais simples fosse visto
Como o mais importante
Mas nos deram espelhos
E vimos um mundo doente.
Quem me dera
Ao menos uma vez
Entender como um só Deus
Ao mesmo tempo é três
Esse mesmo Deus
Foi morto por vocês
Sua maldade, então
Deixaram Deus tão triste.
Eu quis o perigo
E até sangrei sozinho
Entenda!
Assim pude trazer
Você de volta pra mim
Quando descobri
Que é sempre só você
Que me entende
Do início ao fim.
E é só você que tem
A cura do meu vício
De insistir nessa saudade
Que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi.
Quem me dera
Ao menos uma vez
Acreditar por um instante
Em tudo que existe
E acreditar
Que o mundo é perfeito
Que todas as pessoas
São felizes…
Quem me dera
Ao menos uma vez
Fazer com que o mundo
Saiba que seu nome
Está em tudo e mesmo assim
Ninguém lhe diz
Ao menos, obrigado.
Quem me dera
Ao menos uma vez
Como a mais bela tribo
Dos mais belos índios
Não ser atacado
Por ser inocente.
Eu quis o perigo
E até sangrei sozinho
Entenda!
Assim pude trazer
Você de volta pra mim
Quando descobri
Que é sempre só você
Que me entende
Do início ao fim.
E é só você que tem
A cura pro meu vício
De insistir nessa saudade
Que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi.
Nos deram espelhos
E vimos um mundo doente
Tentei chorar e não consegui.